quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Era o momento certo do dia exacto.

Hoje abri novamente o nosso blog, e reparei que tínhamos mais um comentário a um post do dia 15 de Junho. Como este post não é dos mais recentes, provavelmente, este comentário passaria despercebido à maioria dos leitores deste mesmo blog. Achei este comentário muito bonito e não poderia deixar que ele passasse ao lado. Então decidi colocar este comentário num lugar privilegiado do blog.

Blogger Margarida Faro disse...

Era o momento certo do dia exacto.

O chefe dormia, descansava,
E prolongava o seu repouso,
Após a última grande actividade.

Como sempre, empenhara-se a fundo
Atrevera-se até ao pormenor
Querendo dar o seu melhor.
E de tão bem o ter conseguido
Necessitou de uma pausa maior.

E foi no seu merecido sossego
Que pôde saborear, em calma
A proximidade extrema
Do fim de todos os trilhos
Que a si foram destinados.

Fim de pista à vista!

E na sua dormente sonolência
Oferecida por quem lhe quis bem
Foi capaz de uma doce invenção:
Um esgar de sorriso para oferecer
A todos os que não voltaria a ver.

O chefe partiu sereno e sorridente
Em paz com esta sua existência
E conformado com o fim do agradável jogo.
Pudemos testemunhá-lo no seu último leito.

O chefe era meu amigo
Mas também o era de todos os outros
E era irmão de todos os escutas.

Escuteiro e homem carismático
Ninguém que o conheceu o pôde ou poderá esquecer
Foi filho e pai, marido, avô, amigo, sogro, irmão...
Plantou árvores e protegeu os animais...

Terá ficado algo por escrever?!...
Nem sei, mas que importa
Se todos o soubemos tão bem ler?!

De trato fácil e explicação pronta
Com ele aprendíamos sempre que nos cruzávamos
E que novidades curiosas, que facilidades para a vida!

O chefe sorriu-nos para nos mostrar
Que de uma vida preenchida
Não se parte com tristeza.
O chefe sorriu-nos por nos amar
Subtilmente mostrou-nos a beleza
Da passagem para outra dimensão.

Foi um último ensinamento
Mesmo sem visualizar os aprendentes
E tal não terá passado despercebido
A quem o amou e se despediu dele
Com uma última presença física...

O chefe era o Tovar, figura emblemática
E ninguém lhe tomará o lugar
Porque a sua existência foi exemplar.

É um chefe que não morreu.
Ele, como proclamou Camões,
Foi-se da lei da morte libertando
E só vai partir de facto daqui a muito
Quando já os netos tiverem contado dele
Todas as suas histórias aos seus trinetos.

O chefe era o meu sogro.
Vi-o a 15 e 16 de Junho
E vou lembrar para sempre
O seu sorriso suave de despedida
Que ele esboçou para todos
No momento certo do dia exacto.

Guida Palhota

21/Ago/2008 1:46:00

Sem comentários: